Não há dúvida de que o vírus da hepatite C (VHC) constitui, atualmente, o principal agente etiológico de doença hepática avançada. De acordo com a região geográfica estudada, entre 30 e 75% dos casos de cirrose estão relacionados ao VHC. Na evolução clínica encontramos desde formas assintomáticas nas hepatites crônicas de diferentes graus, até sinais e sintomas moderados a severos, como as manifestações extra-hepáticas, descompensação hepática e o carcinoma hepatocelular. Além disso, sabe-se que, em todo o mundo, a cirrose por vírus C constitui a mais freqüente indicação para transplante hepático em adultos. Apesar de todos esses fatos já estarem exaustivamente comprovados, a história natural dessa afecção permanece ainda indefinida. Até o momento, existem controvérsias sobre o percentual exato de indivíduos infectados que irão desenvolver complicações realmente sérias da hepatite C (1).
Podemos observar uma considerável heterogeneidade entre diferentes pacientes com hepatite C, representados por indivíduos que apresentam desde progressão lenta ou inexistente, até uma moderada a rápida progressão para graus avançados de fibrose. Muitas variáveis têm sido implicadas na evolução da doença, destacando-se idade no momento do contágio, tempo de infecção, genótipo do vírus C, quantificação viral, sexo, raça, alcoolismo concomitante, co-infecção com vírus B e HIV (1).
TRATAMENTO
Interferon Alfa (convencional)
O tratamento da infecção pelo vírus C deve ser recomendado com o intuito de se diminuir o processo inflamatório no fígado, diminuir a fibrose hepática e conseqüente evolução para cirrose, e também diminuir a chance de aparecimento de carcinoma hepatocelular nos pacientes já com cirrose.
Desde a descrição inicial do vírus em 1989, foram utilizados diferentes esquemas terapêuticos na tentativa de se otimizar a dose e duração ideais de tratamento com o interferon alfa (IFN), que se mostrou a droga de escolha por suas propriedades antivirais e imunomoduladoras. Sua eficácia, contudo, permaneceu insatisfatória. Com o objetivo de melhorar a resposta ao tratamento do VHC, foi iniciado o uso da combinação desta última droga com a ribavirina, que apesar de não ter ação contra o vírus C quando usada isoladamente, aumenta substancialmente o índice de resposta sustentada ao tratamento combinado. Esse índice de resposta é variável de acordo com o genótipo do VHC e a fase de doença em que o paciente se encontra, além de outros fatores. Nos casos de hepatite C aguda, essa resposta pode chegar a 70 %. Nos casos de doença leve a moderada, é de 30 a 40% como um todo (não estratificada por genótipo). E nos pacientes com cirrose, é de apenas 10% (2).
Após a publicação dos resultados de dois grandes estudos multicêntricos na Europa (3) e nos Estados Unidos (2), conferência Internacional realizada em Paris, em fevereiro de 1999 (1), estabeleceu, de forma consensual, que a combinação de IFN e ribavirina deve ser oferecida a todos os pacientes com hepatite crônica pelo vírus C que tenham indicação de tratamento e que não tenham sido tratados anteriormente. A duração do tratamento depende do genótipo do VHC e da carga viral, visto que, nesses estudos, a resposta sustentada foi significativamente diferente quando os pacientes foram estratificados por genótipo (1 ou não-1) ou carga viral (< ou ≥ 2 milhões de cópias/ml) (2), (1).
Para pacientes com genótipo 2 e 3, preconiza-se 6 meses de tratamento, independentemente da carga viral. Para pacientes com genótipo 1, preconiza-se 6 meses de tratamento, se a carga viral for <2 milhões de cópias/ml; para pacientes com carga viral ≥ 2 milhões de cópias/ml, recomenda-se 12 meses de tratamento. O tratamento não deve ser interrompido mesmo que não haja negativação do HCV-RNA após 3 meses. As dose preconizadas de IFN são de 3 milhões de unidades, 3 vezes por semana, em injeções subcutâneas; e 1000 a 1.200 mg de ribavirina, por via oral, em dose fracionada a cada 12 horas, diariamente (1).
Apesar do sucesso em torno de 41% de resposta sustentada com o uso de IFN associado à ribavirina por 12 meses, há uma percentagem significativa de pacientes que apresenta recidiva, e ainda outros que não respondem ao tratamento inicial, possivelmente pelo desenvolvimento de anticorpos anti-IFN e/ou seleção de cepas mutantes com resistência intrínseca. Dessa forma, cerca de 60% dos pacientes tratados vão se tornar não respondedores.
Na ausência de terapêutica altamente eficaz, um percentual de pacientes com hepatite crônica pelo vírus C vão evoluir para cirrose, com descompensação desta última condição e desenvolvimento de suas complicações (1).
Interferon Alfa Peguilado
Interferon alfa peguilado (PEG-IFN alfa) foi produzido através da adição de uma molécula de polietilenoglicol (PEG), um polímero de peso molecular variado, à proteína do Interferon alfa, resultando em modificações substanciais em seu metabolismo e excreção, permitindo, por prolongamento de sua meia vida, que uma dose semanal mantenha níveis séricos terapêuticos satisfatórios. A manutenção de níveis sustentados de interferon por um período de uma semana permite uma pressão constante contra o vírus, impossibilitando o aumento da replicação viral que ocorre entre os intervalos das aplicações de interferon alfa, 3 vezes por semana (tratamento standard) (4). A peguilação também tem a vantagem de diminuir a imunogenicidade do interferon, diminuindo a possibilidade de produção de antcorpos contra o mesmo (5), (6). Além disso, a comodidade de apenas uma injeção semanal pode melhorar a aderência do paciente ao tratamento. Dois interferons peguilados foram desenvolvidos até o momento: o peginterferon alfa-2a (PegasysTM – Hoffman La Roche), sintetizado com PEG ramificado de 40 kilodaltons, ligado de forma covalente à proteína do interferon alfa-2a (6) e o peginterferon alfa-2b (PegIntronTM – Schering Plough), sintetizado com PEG linear de 12 kilodaltons, ligado à proteína do interferon alfa-2b de forma não covalente (5).
Peginterferon alfa-2a (Pegasys™)
I. Estrutura e Farmacocinética
Peginterferon alfa-2a (Pegasys™) é a forma peguilada do Interferon alfa-2a (Roferon™). Foi sintetizado pela ligação covalente do inteferon alfa-2a com uma molécula ramificada de polietilenoglicol de 40.000 dáltons (40kDa) numa ligação amida forte. Essa modificação altera a absorção, distribuição e eliminação do interferon, e é dependente do tamanho da molécula do PEG. A peguilação com a molécula de 40kDa é responsável pela absorção sustentada e diminuição da depuração renal da droga em 100 vezes (6). A concentração terapêutica é atingida em apenas 3 horas e a concentração sérica máxima do Pegasys™ ocorre 80 horas após injeção sub-cutânea, mantendo níveis plasmáticos sustentados por mais de 168 horas, permitindo um intervalo de administração semanal (6). O volume de distribuição do Pegasys™ foi semelhante ao do Roferon A após injeção sub-cutânea. Enquanto a depuração renal é responsável pela eliminação de 70 a 80% da dose de interferon alfa, a eliminação do Pegasys™ ocorre através de metabolismo hepático (7). Por esse motivo, não há necessidade de reajuste de dose em pacientes idosos ou com função renal comprometida (8).
A administração concomitante de ribavirina em diferentes doses não alterou os parâmetros de farmacocinética de diferentes doses do Pegasys™.
II. Farmacodinâmica
A concentração sérica de 2’5’oligoadenilato sintetase (2’5’OAS) é utilizado como marcador da atividade biológica in vivo do interferon alfa-2a . Sua concentração sérica aumenta rapidamente após 3 a 6 horas de uma injeção s.c. de Peginterferon alfa-2a ou IFN alfa-2a, porém os níveis declinam mais rapidamente no grupo que utilizou o IFN alfa-2a. A indução máxima de 2’5’OAS está diminuída no idoso e no paciente com disfunção renal (8).
III. Estudos de Monoterapia com Pegasys™
Estudo comparativo preliminar, apresentado em maio 1999 no DDW, em Orlando, mostrou que a resposta sustentada com o uso do Peg-interferon alfa 2a (Pegasys™), na dose de 180 mcg, 1 vez por semana, por via subcutânea, foi comparável historicamente ao uso do tratamento combinado. Mais recentemente, dois outros estudos prospectivos controlados publicados no New England Journal of Medicine, demonstraram maior eficácia do Pegasys™ quando comparado ao IFN alfa-2a convencional em análise do tipo “intenção de tratamento” (9), (10). No primeiro deles, Zeuzen et al. randomizaram 531 pacientes portadores de hepatite crônica pelo VHC, virgens de tratamento, para receber Pegasys™ 180 µg/semana (n= 267), por 48 semanas ou 6 MUI de interferon alfa-2a, 3 vezes/semana, por 12 semanas, seguido de 3 MUI, 3 vezes por semana (n= 264) por mais 36 semanas. Após término do tratamento, os pacientes foram acompanhados por mais 24 semanas, quando foi avaliado a resposta virológica sustentada. A resposta virológica ao final do tratamento foi significativamente superior para o grupo do Pegasys™ (69%) comparado com 28% para o grupo do IFN alfa-2a (p=0.001). Já a resposta sustentada na semana 72, foi de 39% para o grupo que recebeu Pegasys™ comparado com 19% para o grupo que recebeu IFN alfa-2a (p=0.001) (9). Em 351 pacientes, a biópsia pós tratamento foi comparada com a biópsia pré-tratamento, sendo observada melhora histológica em 63% dos pacientes que receberam Pegasys™ comparado a 55% dos pacientes que receberam IFN alfa-2a, independente da resposta virológica.
No segundo estudo, Heathcote et al. randomizaram 271 pacientes portadores de hepatite crônica pelo VHC em fase cirrótica ou com transição para cirrose, virgens de tratamento, para receber por 48 semanas Pegasys™ 180 µg/semana (n= 87), Pegasys™ 90 µg/semana (n=96) ou 3 MUI de interferon alfa-2a, 3 vezes/semana, (n= 88). Após término do tratamento, os pacientes foram acompanhados por mais 24 semanas, quando foi avaliado a resposta virológica sustentada. A resposta virológica ao final do tratamento foi significativamente superior para o grupo que utilizou Pegasys™ 180 µg/semana (44%) comparado com 42% no grupo que utilizou Pegasys™ 90 µg/semana, e de 14% para o grupo do IFN alfa-2a (p=0.001, entre os 2 grupos Pegasys e o grupo IFN). Já a resposta sustentada na semana 72, foi de 30% para o grupo que recebeu Pegasys™ 180 µg/semana comparado com 15% para o grupo que recebeu Pegasys™ 90 µg/semana, e de 8% para o grupo que recebeu IFN alfa-2a (p=0.001, entre o primeiro e terceiro grupos) (10). Apesar dos dois grupos que receberam Pegasys™ terem tido resposta semelhante ao final do tratamento, aquele que recebeu a dose maior (180 µg), teve possibilidade maior de sustentar a resposta virológica. Em 184 pacientes, a biópsia pós tratamento foi comparada com a biópsia pré-tratamento, sendo observada melhora histológica em 54% dos pacientes que receberam Pegasys™ 180 µg/semana comparado a 44% dos pacientes que receberam Pegasys™ 90 µg/semana, e de 31% nos pacientes que receberam IFN alfa-2a (p=0.02, entre o primeiro e terceiro grupos), independente da resposta virológica.
No estudo de Zeuzem et al., foram avaliados os fatores preditivos de resposta virológica sustentada. Aqueles que se mostraram significativos por análise de regressão logística e que, independentemente, aumentaram a chance de resposta virológica sustentada foram: uso de peguinterferon alfa-2a (p<0.001), idade < 40 anos (p=0.003), superfície de área corpórea ≤ 2 m2 (p<0.001), HCV-RNA ≤ 2 milhões copias/mL (p<0.001), ALT > 3xLSN no pré-tratamento (p<0.001), ausência de cirrose ou transição para cirrose (p=0.03), e genótipo não 1(p<0.001) (9). Diferente dos estudos com IFN alfa, sexo feminino não é um fator preditivo de resposta sustentada nos estudos com Pegasys™.
Além de ter demonstrado vantagem no tratamento de pacientes cirróticos, o Pegasys™ também se mostrou superior ao IFN alfa-2a no tratamento de outras populações consideradas mais resistentes ao tratamento, como os indivíduos de raça negra, ou aqueles com genótipo 4. Um primeiro estudo revelou resposta sustentada de 15% nos pacientes negros que receberam Pegasys™ comparado com 0% naqueles que receberam IFN alfa 2a (11). Em um segundo estudo com um número pequeno de pacientes com genótipo 4, os autores demonstraram 45% de resposta bioquímica e virológica sustentada nos pacientes que receberam Pegasys™ comparado com 0% nos pacientes que receberam IFN alfa-2a (11).
IV. Estudos de Terapia Combinada com Pegasys™ e Ribavirina
Recentemente, Fried et al. apresentaram no DDW, em Atlanta, o primeiro estudo randomizado, multicêntrico internacional, comparando o Pegasys™ na dose de 180 µg/semana associado ou não com a ribavirina nas doses de 1000 a 1200 mg/dia, versus IFN alfa-2b, 3MU, 3 vezes por semana junto com a ribavirina nas mesmas doses em pacientes com hepatite crônica pelo VHC, sem tratamento anti-viral prévio (12). Os resultados, baseados em análise de intenção de tratamento, com o Pegasys™ em terapia combinada foram superiores à combinação IFN-alfa2b com Ribavirina, bem como ao Pegasys™ em monoterapia, com resposta sustentada de 56%, 45% e 30%, respectivamente. Nos pacientes com genótipo 1, a resposta sustentada foi de 46%, 37%, e 21% para os três grupos respectivamente. Nos pacientes com genótipo 2 e 3, a resposta sustentada foi de 76%, 61%, e 45%, respectivamente (Figura 1). (12).
Resta saber a eficácia do interferon peguilado na população de não-respondedores, que corresponde a aproximadamente 60% dos pacientes submetidos ao tratamento pelo esquema de combinação IFN / ribavirina, incluindo-se verdadeiros não respondedores, ou seja, aqueles que não apresentam queda dos níveis do HCV-RNA e normalização da ALT durante o tratamento; pacientes que apresentam o “breakthrough” ou escape durante o tratamento; e, finalmente, os recidivantes, aqueles que apresentam resposta ao final do tratamento, mas recidivam durante os 6 meses de acompanhamento.
V. Segurança e Tolerabilidade
Os estudos realizados com o Pegasys™ em monoterapia ou em
combinação com a ribavirina, demonstraram que os efeitos colaterais são freqüentes, porém leves a moderados na maioria dos pacientes, e qualitativamente semelhantes aos já descritos com o IFN alfa-2a isolado ou em associação com a ribavirina. Sintomas de síndrome gripal como febre, mialgia e fadiga, queda de cabelo, depressão, e supressão da medula óssea são os principais efeitos adversos a que os médicos devem estar atentos e monitorizar durante o curso do tratamento.
No estudo com Pegasys™ em monoterapia publicado por Zeuzem et al., menos de 1% dos pacientes descontinuaram tratamento por alterações laboratoriais. As doses foram ajustadas em 11% dos pacientes que utilizaram Pegasys™ e em 7% dos pacientes que receberam IFN alfa-2a (9). No estudo em pacientes cirróticos, a interrupção do tratamento por eventos adversos ocorreu em 8% dos pacientes que receberam IFN alfa-2a, em 7% dos que receberam Pegasys™ 90 µg, e em 13% dos que receberam Pegasys™ 180 µg. Já a interrupção do tratamento por alterações laboratoriais ocorreu em 2% dos pacientes que receberam IFN alfa-2a, em 4% dos que receberam Pegasys™ 90 µg, e em 1% dos que receberam Pegasys™ 180 µg. As doses foram ajustadas por neutropenia em em 14% dos pacientes que receberam IFN alfa-2a, em 9% dos que receberam Pegasys™ 90 µg, e em 11% dos que receberam Pegasys™ 180 µg. Nenhum desses pacientes porém, descontinuou tratamento por causa da neutropenia ou apresentou infecção séria associada à mesma (10).
VI. Impacto na Qualidade de Vida
Análise preliminar após 3 meses de tratamento comparando Pegasys™ 180 µg/semana em monoterapia versus IFN alfa-2b, 3 vezes/semana mais ribavirina, demonstrou que pacientes que receberam Pegasys™ em monoterapia apresentaram melhor qualidade de vida relacionada à saúde, medida através do questionário HQLQ (Hepatitis Quality of Life Questionaire) e também apresentaram produtividade no trabalho superior em 100%, medida através do WPAI (Work Productivity and Activity Impairment) (13). Estudos avaliando a qualidade de vida de pacientes utilizando a combinação de Pegasys™ com ribavirina estão sendo aguardados.
Peginterferon afa-2b (PegIntronTM )
I. Estrutura e Farmacocinética
PegIntron é a forma peguilada do Intron A. Foi sintetizado pela ligação do inteferon alfa-2b com uma molécula linear de polietilenoglicol de 12.000 dáltons (12kDa) numa razão de 1:1. Essa modificação resultou em um aumento da meia-vida de 4 para 40 horas, pela diminuição da depuração renal da droga (14). A concentração sérica máxima do PegIntron ocorre entre 15 e 44 horas após injeção sub-cutânea, mantendo-se por mais 48 a 72 horas, permitindo um intervalo de administração semanal. A curva de concentração sérica de Pegintron na dose de 1,5 µg/kg demonstrou um nível de vale superior ao nível de pico do Intron A na dose de 3 MUI, s.c. (14). O volume de distribuição do PegIntron foi semelhante ao do Intron A após injeção sub-cutânea. Existem evidências de que a depuração renal seja responsável pela eliminação de 70 a 80% da dose de interferon alfa administrada. Quanto à eliminação do PegIntron, parece que a depuração renal é responsável por apenas 30%, sendo o restante através de ligação a proteínas receptoras de interferon e a metabolismo hepático não específico. Por esse motivo, o PegIntron pode ser utilizado em pacientes cirróticos ou com função renal comprometida.
A administração concomitante de ribavirina em diferentes doses não alterou os parâmetros de farmacocinética de diferentes do PegIntron™. As curvas de concentração plasmática de PegIntron™ 1.4 µg/kg nas semanas 1 e 4 foram muito semelhantes nos pacientes que receberam, ou não receberam, tratamento combinado com a ribavirina (5). A concentração plasmática máxima (pico) ocorreu no mesmo período pós admisnistração do PegIntron™ nos 2 grupos, demonstrando que a administração concomitante de ribavirina não interfere na absorção do PegIntron™, assim como a eliminação do PegIntron foi semelhante nos 2 grupos (5).
II. Farmacodinâmica
A farmacodinâmica do PegIntron é semelhante à do Intron A após uma única ou múltiplas doses em indivíduos sadios ou em pacientes com hepatite crônica pelo VHC (14). As duas drogas diminuiram o número de leucócitos, de neutrófilos, e de plaquetas. Ambas aumentaram a concentração sérica de 2’5’oligoadenilato sintetase de forma dose-dependente. Não houve diferença nos testes de função de neutrófilos, como distância de migração de neutrófilos (mm), ou percentual de colônias mortas de S. Aureus, quando os pacientes que receberam a terapia combinada de PegIntron™ com ribavirina foram comparados com os que receberam monoterapia com PegIntron™, ou mesmo com os controles não tratados (5).
III. Estudos de Monoterapia com PegIntron™
Em um estudo de fase III, 1219 pacientes virgens de tratamento foram randomizados para receber peginterferon alfa2-b nas doses de 0.5 µg/kg, 1.0 µg/kg e 1.5µg/kg, 1 vez por semana ou 3 milhões de unidades de interferon alfa2-b, 3 vezes por semana, por 48 semanas, permanecendo em observação por mais 24 semanas. A maioria dos pacientes possuiam genótipo 1 (70%) e carga viral superior a 2 milhões de cópias/mL (75%). A resposta virológica sustentada ao final do período de observação foi significativamente maior nas 3 doses de PegIntron quando comparados ao Intron A, 18%, 25% e 23% versus 12%, respectivamente. Pacientes com genótipo 1 que utilizaram a dose de 1.5 µg/kg tiveram resposta ao final do tratamento superior àqueles que utilizaram 1.0 µg/kg (39% versus 25%), porém tiveram índice de recidiva bem superior (66% versus 46%), sugerindo que 1.5 µg/kg seria a dose ideal em combinação com a ribavirina, que sabidamente contribui para aumentar o índice de resposta sustentada ao tratamento.
IV. Estudos de Terapia Combinada com PegIntron™ e Ribavirina
Estudo preliminar de fase I/II avaliou a segurança, tolerabilidade, farmacocinética e farmacodinâmica do PegIntron™ associado à ribavirina comparado ao PegIntron™ como monoterapia em pacientes com hepatite crônica pelo VHC (5). Nesse estudo de dose escalonada, 72 pacientes foram randomizados para receber PegIntron™ nas doses de 0.35, 0.7 ou 1.4 µg/kg/semana, isoladamente ou em combinação com ribavirina nas doses de 600, 800, ou 1000 a 1200 mg/dia, por 24 semanas. Após término do tratamento, os pacientes foram acompanhados por mais 24 semanas. A atividade anti-viral foi dependente da dose do PegIntron. A resposta virológica sustentada foi de 17%, 53%, e 60% nas 3 doses de PegIntron™ associadas à ribavirina, comparado a 0%, 44% e 42%, respectivamente, nas 3 doses de PegIntron™, como monoterapia (5).
Estudo multicêntrico de fase III foi apresentado por Manns et al. no AASLD em 2000, onde 1530 pacientes foram randomizados para receber PegIntron™ 1.5 µg/kg/semana + ribavirina 800mg/dia por 48 semanas, ou PegIntron 1.5 µg/kg/semana por 4 semanas, seguido de 0.5 µg/kg/semana + ribavirina 1000-1200mg/dia, por 44 semanas , ou IFN alfa-2b + ribavirina 1000-1200mg/dia por 48 semanas. O primeiro grupo apresentou resposta virológica sustentada significativamente superior (54%), quando comparado aos 2 últimos grupos (47% e 47%, respectivamente; p=0.01) (Figura 2). A resposta virológica sustentada analizada de acordo com o genótipo também está ilustrada na figura 2. A resposta virológica sustentada para o genótipo 1 foi significativamente superior quando o grupo do PegIntron 1.5 µg/kg/semana foi comparado aos grupos PegIntron 0.5 µg/kg/semana ou IFN alfa 2b. No entanto, não houve diferença estatística quando os mesmos grupos foram comparados nos pacientes com genótipo 2 e 3 (15). Esse mesmo grupo, em um trabalho apresentado no EASL 2001 em Praga, sugeriu que a dose da ribavirina, assim como a do PegIntron™, fosse otimizada de acordo com o peso do paciente, sendo a dose ideal de ribavirina encontrada para maximizar a resposta virológica sustentada a de 13 ± 2 mg/kg/dia.
V. Segurança e Tolerabilidade
Estudos de análise de segurança com doses crescentes de PegIntron em pacientes com hepatite crônica pelo VHC demonstraram que esta formulação tem perfil de segurança bastante semelhante ao descrito para o interferon alfa-2b em todas as doses utilizadas (14). A tolerabilidade ao Pegintron foi semelhante ao Intron A, apesar dos pacientes estarem submetidos a níveis bem mais elevados de interferon alfa-2b quando utilizaram a formulação peguilada. A incidência de eventos adversos foi maior nos pacientes que utilizaram as doses de 1.0 µg/kg e 1.5 µg/kg de PegIntron, porém foram qualitativamente semelhantes àqueles dos pacientes que utilizaram 0.5 µg/kg de PegIntrom ou 3 MU de Intron A. A incidência de eventos adversos psiquiátricos (depressão, ansiedade, irritabilidade, insônia) foi semelhante nos quatro braços de tratamento. Decréscimo no número de neutrófilos e plaquetas ocorreu nos quatro grupos, porém o número de pacientes que necessitou redução da dose do PegIntron foi proporcionalmente maior, com aumento da dose da medicação, sendo de 9% nos pacientes que receberam 0.5 µg/kg, de 14% nos que receberam 1.0 µg/kg, e de 19% nos que receberam 1.5 µg/kg. A taxa de descontinuação do tratamento foi no entanto semelhante em todos os grupos. Não houve necessidade de redução da dose ou descontinuação do tratamento, por elevação de ALT.
Mais recentemente, um estudo avaliou a segurança e tolerabilidade do PegIntron™ associado à ribavirina, ambos em doses crescentes, em pacientes com hepatite crônica pelo VHC (5). Os efeitos adversos reportados foram os típicos já descritos com o Intron A, e foram qualitativamente semelhantes nos diversos grupos. O mesmo ocorreu no estudo de Manns et al., onde a necessidade de redução das doses foi um pouco maior no grupo PegIntron™ 1.5 µg/kg/semana + ribavirina 800mg/dia, porém a necessidade de suspensão do tratamento foi semelhante nos 3 grupos (15).
VI. Impacto na Qualidade de Vida
PegIntron™ 0.5 µg/kg teve um impacto significativamente menor quando comparado com o Intron A ou mesmo com as doses de 1.0 µg/kg ou 1.5 µg/kg do PegIntron. Os índices de qualidade de vida (QOL) foram medidos através do questionário “Short Form-36 questionnaire” (SF-36), antes do início, durante o tratamento, e durante o período de acompanhamento. Os índices de qualidade de vida melhoraram rapidamente após suspensão do tratamento, retornando a níveis semelhantes aos encontrados antes do início do tratamento. Após 24 semanas de acompanhamento, os pacientes com resposta virológica sustentada apresentaram melhora em vários parâmetros do questionário de qualidade de vida.
CONCLUSÕES
Estudos clínicos preliminares demonstraram que a monoterapia com Pegasys™ ou PegIntron™ melhora a resposta virológica sustentada quando comparados ao IFN alfa. Isto foi demonstrado mesmo em populações sabidamente mais resistentes ao tratamento como cirróticos, pacientes com genótipo 1 e 4, e indivíduos de raça negra. Mais recentemente, 2 estudos demonstraram que a combinação de Peginterferon e ribavirina eleva a mais de 50% o índice de resposta virológica sustentada (12), (15). Enquanto o estudo de Fried et al. mostrou superioridade do braço Pegasys™ + ribavirina em todos os genótipos, o estudo de Manns et al. mostrou superioridade do braço PegIntron™ + ribavirina apenas nos pacientes com genótipo 1 (Figuras 1 e 2). Os dois Peginterferons alfa-2a e alfa-2b, têm características farmacológicas bastante distintas, e não houve estudo clínico até o momento comparando a eficácia clínica das duas formulações. A resposta ao tratamento com Peginterferon em monoterapia tem eficácia comparável à combinação de IFN alfa com a ribavirina, e pode ainda ter indicação em populações especiais com contra-indicações absolutas para o uso da ribavirina, como naqueles pacientes com insuficiência renal terminal; anemia; hemoglobinopatias; doença cardíaca severa; ou não utilização de método anticoncepcional adequado.
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Fonte: Pró-Fígado
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